Ilya pede visto para ir para Portugal

Pela primeira vez, o Ilya decidiu ir visitar a outra ponta da Europa, a convite dos seus amigos portugueses, António e Cláudia. Recebeu o respectivo convite. Nele constavam os dados de identificação dos seus anfitriões, isto é, o número de passaporte ou de cartão de cidadão, a sua data de nascimento, data de emissão, de validade, a referência da entidade emissora do dito documento, sem esquecer as datas da estadia do visitante, e um termo de responsabilidade garantindo o regresso do visitante ao país de origem dentro do prazo estipulado. Para além da carta-convite, teve que efetuar um pedido de visto em linha, acedendo à plataforma do portal das comunidades. Lá preencheu um formulário com os seus dados pessoais. Desta feita, conseguiu também marcação para entregar os seus documentos na secção consular da Embaixada de Portugal em Moscovo. É indispensável efetuar a marcação com a devida antecedência, pois verifica-se um crescente afluxo de turistas russos para Portugal. Ilya teve também de subscrever um seguro de viagem, para além de mandar fazer três fotografias, e comprar o bilhete de avião. Para se precaverem dos imigrantes ilegais, as autoridades portuguesas exigem dos requerentes garantias financeiras para viajar, isto é, um extrato de conta bancária. Para além disso, exigem ao requerente uma declaração da entidade empregadora, com indicação do vencimento mensal usufruído. Quando conseguiu reunir todas estas condições, o Ilya dirigiu-se à secção consular, onde foi atendido por um funcionário consular. Passados quatro dias, voltou à Embaixada de Portugal, para levantar um visto de uma entrada.

Pouco tardou para que ele fizesse as malas. Quando chegou o dia da partida, apanhou o comboio-expresso para o aeroporto de Domodedovo, evitando assim os engarrafamentos da hora de ponta. De mala em punho e de mochila às costas, entrou no aeroporto, depois de passar os detetores de metais. Efetuou o check-in no respectivo balcão, onde apresentou o bilhete e o passaporte. A hospedeira de terra pesou a mala do Ilya. Felizmente não trazia excesso de peso. O Ilya recebeu o seu cartão de embarque, e dirigiu-se à zona de embarque, onde uma funcionária alfandegária procedeu ao controle do seu passaporte. Lá foi novamente revistado dos pés à cabeça, para grande desalento seu. Teve de se descalçar, de colocar a mochila e restantes efeitos pessoais em cestos apropriados, que seguiram para serem analisados a raio X. E logo por azar, foi detetado na mochila do Ilya algo que parecia trazer líquido. Na verdade esquecera-se de colocar na mala de porão o frasco de perfume, e a espuma da barba. Apesar dos seus protestos, ambos foram-lhe confiscados. Hoje em dia, os passageiros são submetidos a medidas de segurança reforçados, devido às constantes ameaças de atentados terroristas.

Sobrava uma boa meia-hora para o embarque, e o Ilya fazia questão de causar boa impressão junto do António e da Cláudia, que o iam receber. Por isso, entrou na loja de artigos duty-free do aeroporto, à procura de umas lembranças da Rússia. Queria fugir aos estereótipos, e escolheu então um prato de loiça azul e branco, dita “Gjel”. Mas ao consultar um guia turístico de Portugal, apercebeu-se de que os portugueses até tinham um tipo de loiça algo parecido. Optou então por um xaile. Mas quando chegou à caixa, lembrou-se de ter visto num documentário televisivo umas fadistas a cantarem, envergando xailes quase semelhantes aos russos. Com o leque de escolha reduzido que a loja oferecia, acabou mesmo por comprar uma garrafa de vodka para o António, e uma matrioska com a cara dos últimos presidentes da Rússia, para a Cláudia. Pensou cá com os seus botões: “bem, só falta mesmo eu levar um urso para completar o cliché”. Ao entrar no avião, colocou a sua mochila nos cofres que ficavam por cima do seu assento, e instalou-se no seu lugar, junto à janela. De acordo com as instruções da hospedeira de bordo, apertou o cinto de segurança, desligou o telemóvel e todos os restantes aparelhos eletrónicos. O avião descolou rumo a Munique, onde tinha um voo de conexão. Em Munique, deambulou pelos corredores do aeroporto. Depois de uma bela cerveja alemã, sentou-se. Abriu o jornal e leu os cabeçalhos para matar o tempo. Passadas duas horas, foi anunciado finalmente o embarque para o voo que o levaria a Lisboa, onde o esperavam de braços abertos o António e a Cláudia.