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Agrave; Rasca. Retrato de uma geração.






Raquel Freire:

Estivemos 20 anos convencidos de que éramos Europa de primeira e não percebemos que isto nos ia acontecer. E quem vai pagar a factura são todas as gerações. Mas há uma geração que a paga especialmente, porque é a geração que deveria come­çar a sua vida agora e não o está a conseguir.

 

José Machado Pais, sociólogo, com trabalho de décadas sobre os jovens e o mercado laboral:

Esta é uma geração muito qualificada e instruída, que está colocada numa encruzilhada. Não vê como é possível con­cretizar os seus objectivos pessoais e profissionais. Têm um curso universitário, têm competências, mas não as conseguem concretizar.

 

Raquel Fernandes:

Estamos perante uma geração nem, nem. Nem trabalha nem estuda. Uma "Geração CP", casa dos pais. Não conseguimos ter uma oferta de trabalho que seja confortável financeiramente para que possamos abandonar a casa dos pais. E mesmo que saiamos de lá, o ordenado que nos oferecem é baixo para nos sustentarmos e iremos sem­pre precisar de ajuda.

 

É frustrante, no final do mês, não haver a recompensa monetária adequada. Trabalhar para aquecer. Não concordo de todo. Porque trabalhamos, é certo que não temos muita experiência, mas, na prática, a empresa está a lucrar com os nossos serviços.

 

Rodrigo Mendes:

Num mundo completamente globalizado como o nosso, assistimos nos últimos 10 anos à emigração de 700 mil jovens qualificados para fora do país. O problema da falta de emprego não tem a ver com a falta de qualificação, porque os que saíram têm trabalho lá fora e muitos deles foram os melhores. O pro­blema está na ausência de investimento que crie essas opor­tunidades de emprego cá.

 

David Cairns:

Economicamente, sair de cá pode ser uma boa ideia. Mas, psicologicamente, tal pode ser mais difícil por causa da família, dos amigos, da cultura, do futebol, da qualidade do café. A cultura portuguesa é muito forte, tem muita intensidade. Num país como a Inglaterra não há uma cultura como esta, não é tão substancial. Aqui temos mui­tas pequenas coisas que podem fazer muita diferença lá fora. É muito difícil morar fora desta zona de conforto.

 

André Freire:

Os pais estão a perceber que não são capazes de dar aos filhos tudo aquilo que tiveram. Portanto, há uma espé­cie de downgrade geracional».

 

Ana Alves:

Vivo em casa dos papás. Os pais pagam água, luz, gás... Eu pago a Internet, o meu passe e as minhas coisas. Acho que foi um alívio para o meu pai, que era quem me pagava as contas. Já não preciso de chegar e: "Pai, eu pre­ciso de dinheiro." E o pai revira os olhos e pergunta: "O que fizeste ao que te dei?" Nesse aspecto estão mais alivia­dos, mas continuam preocupados com o meu futuro.

 

Pode ser mal-interpretado, mas viajar, conhecer, comprar livros, cd, é uma maneira de nos cultivarmos. É uma questão de educação. Os nossos pais foram educados a amealhar, a juntar, a pou­par, "ai o empréstimo da casa", "ai o carro", "ai e a máquina de lavar roupa”. Eu sei que é difícil, para os nossos pais, compreenderem, e começam logo "lá vais tu gastar dinheiro numa exposição". Mas nós gostamos de investir.

 

Machado Pais:

Os jovens diferem, esperam que um dia pos­sam encontrar o emprego para o qual estudaram, e entre­tanto aceitam qualquer emprego. Os jovens diferem o tempo em que vão ter a sua casa, adiam esse projecto. Cada um salva-se como pode. Uns apoiam-se na estrutura familiar, outros aceitam qualquer tipo de trabalho, outros emigram.

Ana Alves:

Hoje sou o que sou graças a tudo que fiz. Mas acho que é um bocadi­nho frustrante andarmos a estudar, a investir em nós e, se calhar, chegamos cá fora e vamos trabalhar para trás de um balcão de uma loja. Sei que isso não nos tira as capacidades e as pessoas não deixam de ser boas pessoas por causa disso mas acho que é frustrante.

 

«Ah, você era ideal para o cargo mas tem habili­tações a mais», diz Nuno Almeida ao tentar imitar os entrevistadores que lhe têm calhado na rifa, quando sempre lhe ensinaram que «o saber não ocupa lugar».

 

Sofia tem 24 anos. Está feliz na nova clínica que integra como administrativa financeira e recepcionista. Começou a trabalhar numa loja. Mas «era aquele sufoco. Eu só pensava: tirei uma licenciatura para andar aqui a ser explorada». Despediu-se. Voltou a procurar. «De momento não estamos a precisar mas vamos guardar os seus dados e contactamos quando houver oportunidade». «É aquela frustração. Uma pes­soa está à procura de trabalho e as respostas que ouve são sempre as mesmas.»

 

João Bettencourt da Câmara: O mercado de trabalho e a mentalidade por­tuguesa exigem que toda a gente tenha um curso universitá­rio. E, agora com Bolonha, todos têm de ser mestres.

Pelo contrário, nos países de raiz protes­tante, os jovens deparam-se com um mercado de trabalho completamente flexibilizado, cheio de escolha e onde existe uma cultura de trabalho intensíssima. Não têm nem um décimo dos feriados que temos, trabalham muito mais horas e, de facto, depois ganham mais dinheiro, também passa por aí. Esta cultura incentiva as pessoas a esforçarem-se.

João descobriu «jovens ingleses que saem de casa, com 16 anos, para irem trabalhar. E conheço famílias em que os pais cobram renda aos filhos pelos quartos, quando arran­jam emprego. Talvez seja um pouco de mais mas é uma boa prova de como aquilo funciona».

 

Excertos do livro de Ana Filipa Pinto “À Rasca. Retrato de uma geração.”

2011, Planeta Manuscrito

 







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