Problemas da juventude nos países da Europa

Os jovens que estão hoje na faixa dos 20 aos 30 anos enfrentam uma situação sem precedentes. São mais instruídos e qualificados que os seus pais. Viajaram e dominam várias línguas estrangeiras. Nasceram “de rato na mão”, crescendo no mundo das novas tecnologias de comunicação, num período de relativa bonança, sem guerras, sem limitações à criatividade e liberdade de expressão. Ainda assim, não conseguem uma oportunidade para entrar no mercado de trabalho.

Nos países mais atingidos pela crise, o índice de desemprego juvenil ronda 50 % em Espanha e na Grécia, 30% em Portugal, Irlanda e Itália. O clima de recessão económica que a Europa atravessa criou uma geração a que os economistas e a imprensa chamam “geração perdida” ou “geração desperdiçada”.

As empresas deixaram de contratar, e passaram a despedir trabalhadores com contratos temporários, maioritariamente jovens, que se sujeitam a contratos precários, e a serem considerados mão-de-obra barata, ou até mesmo gratuita. Os jovens acumulam estágios curriculares na esperança de um contrato permanente. Não têm oportunidade de se tornar independentes tanto em termos económicos como sociais. Não têm capacidades práticas, não sabem gerir um orçamento, muitos não têm experiência de luta. Por conseguinte tendem a ficar em casa dos pais a termo incerto, adiando para as calendas a possibilidade de casar e fundar uma família.

Os hábitos de consumo refletem, por sua vez, a condição precária dos jovens. Nas idas aos centros comerciais, o supérfluo é deixado de parte, e adquirem apenas o essencial. Quanto aos projetos de férias, para muitos não passam de uma miragem, e limitam-se às idas à praia ao fim de semana, para os que vivem no litoral.

Muitos dos jovens que integram as estatísticas de desemprego colecionam os diplomas. Estamos perante uma geração com expectativas altas mas frustradas, que já não quer saber de política, que já nem vê o telejornal, e se limita a atualizar a página inicial do Facebook, arrumando os sonhos na prateleira. Neste contexto de incerteza, poucos são os que ainda sonham em fazer algo de que gostam, preocupando-se mais com as saídas profissionais. Viram quase norma os casos de jovens a omitirem habilitações no currículo para conseguir empregos de caixa em supermercados, ou outros trabalhos não qualificados.

Perante tal cenário, alguns optam por emigrar, seguindo as pegadas dos seus antepassados. Desde a eclosão da crise, já milhares de jovens cidadãos europeus abandonaram o seu país, tentando a sua sorte inclusive em países da América Latina ou África. E não faltam governantes a incitá-los a fazê-lo, como aconteceu num passado recente em Portugal, gerando acesas polémicas.

De acordo com especialistas, o desemprego juvenil acarreta graves e duradouras consequências socio-económicas para os países. Atrasa o desenvolvimento profissional dos jovens, colocando-os em desvantagem em relação aos que conseguiram emprego logo após a universidade. Afeta a saúde pública, contribuindo para o aumento dos casos de depressão. E constitui um desperdício de qualificações e talentos, cuja criação envolveu um investimento de recursos inestimável. Em última análise, o défice de matrimónios, do qual resulta uma diminuição drástica das taxas de natalidade, conjugado com a emigração massiva da população jovem, contribui para o consequente envelhecimento da população.

Apesar da adversidade da conjuntura, no seio desta geração há quem manifeste uma postura mais confiante, mais competitiva, e que quer fazer valer as suas capacidades. Nela, destacam-se jovens empreendedores, que tentam ultrapassar os obstáculos, e transformar as suas ideias em oportunidades. Criam micro-empresas, apostam em atividades inovadoras. Devido à crise, ao invés da tradicional tendência de desertificação do interior, verifica-se hoje o regresso das pessoas ao campo, em busca de sustento. Há sim cada vez mais jovens a apostar na agricultura, num estilo de vida mais genuíno, mais saudável, longe da poluição, do stress, e de todos os inconvenientes da vida urbana. Os períodos de recessão são constantes desafios lançados às sociedades, à sua capacidade de ultrapassar as dificuldades, e reinventar um futuro sustentável para as gerações vindouras.