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Emigração Portuguesa






A emigração portuguesa teve início no século XV, com o processo de expansão marítima. Após as primeiras conquistas no norte de África, os portugueses fixaram-se nas ilhas atlânticas da Madeira (1420-1425), no arquipélago dos Açores (1427), e ao longo da costa africana, até Angola, à medida que ia prosseguindo a expansão. Em 1498, Vasco da Gama descobre o caminho marítimo para a Índia, abrindo novas oportunidades à emigração no Oriente. Ao longo do século XVI, formaram-se comunidades portuguesas em cidades como Goa e Damão, e na Europa, nomeadamente em Antuérpia, Sevilha, ou Londres, devido às actividades comerciais. Foram-se espalhando um pouco por todo o mundo, desde o Japão à Terra Nova, dos Países Baixos à Abissínia, da Pérsia a Timor. Na mesma época milhares de judeus expulsos de Portugal refugiaram-se nos Países Baixos e noutras paragens do norte da Europa, contribuindo para a diáspora.

 

A partir da segunda metade do século XVI, regista-se um importante fluxo de emigração para o Brasil, em detrimento da expansão no oriente. A emigração para o Brasil acentuou-se após a descoberta e exploração dos recursos minerais, entre 1697 e 1760. No início do século XIX, as invasões napoleónicas provocaram a fuga da côrte portuguesa para o Brasil. A emigração não abrandou após a independência do Brasil em 1822, e intensificou-se até 1930 rumo aos EUA, Argentina, Uruguai, Guiana Inglesa, e Oceania. Houve quem afirmasse no final do século XIX que o Brasil era o maior cemitério de portugueses. A perda do Brasil favoreceu o incremento da colonização de África, fazendo disparar o número de emigrantes, essencialmente degradados, vadios, e outros marginais para Angola, Moçambique, etc.

 

Ao longo da primeira metade do século XX, a emigração continuou a afluir ao outro lado do Atlântico, e depois da segunda Guerra Mundial, ao Canadá. A partir da segunda metade do século, os portugueses dirigiram-se para a Europa (França, Alemanha, Bélgica, Grã-Bretanha, Holanda, Luxemburgo, etc). No mesmo período, registou-se um grande fluxo de emigração para a Austrália e ex-colónias portuguesas de África, da Índia, de Macau e Timor, incentivada pelo regime do Estado Novo. Outros rumaram à África do Sul em vésperas da primavera marcelista. Entre 1958 e 1974, 1 milhão e meio de portugueses abandonou o país. Após a queda do império, deu-se o repatriamento dos emigrantes das ex-colónias, e o regresso dos emigrantes dos países europeus a partir dos anos 80.

 

No crepúsculo do século XX, Portugal passou a ser o destino de milhares de imigrantes, oriundos do Leste europeu, do Brasil, e de outros quadrantes, atraídos por oportunidades de emprego em grandes empreendimentos, tais como a Expo 98 ou a construção dos estádios para o Euro 2004.

 

A posição geográfica e periférica de Portugal em relação à Europa vocacionou desde cedo o seu povo para a viagem, motivada pela aventura para uns, por questões culturais, políticas, religiosas, ou de sobrevivência para outros. A viagem à Índia de Vasco da Gama é a matéria- prima da maior obra da literatura portuguesa, Os Lusíadas, de Luís de Camões. Ao longo dos séculos, as questões da emigração têm sido exploradas de forma profunda e diversificada em inúmeras obras literárias como: a Peregrinação de Fernão Mendes, O Senhor Ventura de Miguel Torga, Os Emigrantes de Ferreira de Castro, Gente Feliz com Lágrimas, de João de Melo, que narra o drama da emigração das populações açoreanas para os Estados Unidos, ou Os Passos em Volta, de Herberto Hélder, onde se entrelaçam as vivências de um poeta-emigrante na Holanda e Bélgica. Num registo mais sarcástico, autores como Camilo Castelo Branco deixaram-nos retratos trocistas de uma figura típica da sociedade portuguesa do século XIX: a do “brasileiro”, emigrante regressado do Brasil enriquecido, mas tão embrutecido como partiu. Outros escritores, como Wenceslau de Morais ou Camilo Pessanha legaram-nos obras, fruto da sua própria condição de emigrantes no oriente. A emigração é sem dúvida uma das dimensões da História de Portugal, e um fenómeno crónico e estrutural há dois séculos.

 

Segundo os censos, haverá cerca de 5 milhões de portugueses espalhados pelo mundo, orgulhosos da sua identidade. Continuam intimimamente ligados ao país de origem, que não os esquece e lhes dedica com regularidade programas televisivos, jornais e revistas. As principais comunidades lusas são as do Brasil, do EUA, França, África do Sul, Venezuela, Canadá, Suíça, Reino Unido, Alemanha, Macau, Austrália, Luxemburgo, Bélgica.

 

A recessão económica em que Portugal actualmente se encontra volta a empurrar milhares de indivíduos para um novo ciclo de emigração, incentivada pelos própios governantes. Se nos 60 e 70 emigravam as populações menos qualificadas, hoje em dia os que fazem as malas são principalmente jovens com estudos superiores e fluência em línguas estrangeiras. Deixam para trás um país habituado desde há séculos a comparar-se com a Europa, um país inconformado com o seu atraso, na era da globalidade da qual foi pioneiro.

 

É a partir desta condição, dimensão e consciência de um passado glorioso que vai forjando a sua identidade, caráter e mitologia.







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