TEXTO COMLIMENTAR
Nos últimos anos, as empresas oriundas de economias emergentes, especialmente as dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) desafiaram a hegemonia dos líderes mundiais da América do Norte, Europa e Japão e hoje protagonizam a chamada terceira onda de internacionalização. As duas primeiras ondas foram consequência da expansão de empresas da América do Norte e da Europa, principalmente nos anos 50 e 60, e do Japão, nos anos 80. As multinacionais brasileiras, que contam com vantagens comparativas desenvolvidas por meio de um modelo próprio de gestão, não ficaram para trás nesse processo expansionista e já se destacam no ranking das maiores empresas do planeta. O Boston Consulting Group (2009), por exemplo, coloca 14 empresas brasileiras entre os 100 novos concorrentes mundiais. Atualmente, a Companhia Vale do Rio Doce (do setor de mineração), a Petrobras (petróleo) e Embraer (setor aeronáutico) são empresas consolidadas e conhecidas além de suas fronteiras. A busca dessas empresas e de outras pelos mercados externos foi consequência de uma mudança no processo de internacionalização na década de 90, com um considerável aumento de investimentos diretos no exterior (IDE). Isso também ocorreu em outros países latino-americanos; contudo, no caso do Brasil, se nessa década a média anual de investimentos foi de US$ 1,048 bilhão, em 2006 os investimentos saltaram para US$ 8,202 bilhões. Por trás desses números se esconde um processo próprio e distinto de internacionalização das empresas, “cujo modelo de gestão se fundamenta numa combinação original de competência organizacional e de estilo de gestão”, observa uma pesquisa recente intitulada “O caminho se faz caminhando: a trajetória das multinacionais brasileiras”, publicada pelo Universe -Business Review. Atualmente, as multinacionais brasileiras têm presença num amplo espectro de atividades que já não se limitam à exploração de recursos naturais, uma característica das empresas de países emergentes. Além das empresas desse setor, destacam-se as provedoras de insumos básicos, como a petroquímica Braskem, as fornecedoras de materiais de construção, Tigre e Duratex, e as que se dedicam aos serviços técnicos de engenharia, como a Odebrecht. O processo de internacionalização brasileiro ocorreu de forma autônoma, cabendo às empresas tomar decisões e adotar estratégias próprias. “Não houve cooperação entre empresas do setor industrial, ou entre elas e as instituições financeiras (como na Espanha); também não houve ajuda do governo (como na China)”. Houve coincidência no fato de que, entre as maiores multinacionais do país, tiveram destaque as que foram privatizadas. Conforme acontece com a maior parte das empresas multilatinas, as empresas brasileiras demoraram a se internacionalizar. Tiveram de esperar, em muitos casos, décadas desde sua criação. “Houve pequenos movimentos nos anos 80, mas o processo não se intensificou até finais dos anos 90.” No início, as multinacionais brasileiras tinham como alvo a América Latina, o caminho natural no que diz respeito à distância geográfica e a diferenças culturais e institucionais. Diferentemente das primeiras empresas multinacionais que buscavam, prioritariamente, novos mercados ou o acesso a recursos, as empresas tardias (late movers) — de países emergentes como o Brasil — apresentam uma “combinação de atividades que ocorrem simultaneamente e desde o início, compreendendo também a busca de ativos estratégicos e eficientes. Nota-se, mesmo assim, a diversidade de modos de entrada relacionados a essas empresas e que consistem tanto em novas aquisições como em participações e alianças”. A expansão de algumas dessas empresas foi motivada também pela recente formação das denominadas Redes de produção global. Estas, observam os autores, “ao exigir presença internacional, induzem às empresas ao esforço de internacionalização. Exemplos típicos disso são a Sabó, Embraco (fabricante de compressores de refrigeração) e as empresas de tecnologia da informação”.
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